O tempo passa, o corpo enfraquece, as rugas aparecem, o cabelo embranquece, outros caem, enfim, a velhice se aproxima.
Nos próximos dias deste mês de junho, mais um ano fará parte da minha vida. Ah, como voaram esses cinquenta e nove! Olhando para trás, vejo, felizmente, que não me acompanharam os arrependimentos, os remorsos e as mágoas. Tive, sim. Mas deixei-os à margem do caminho. É sempre um peso e incômodo trazê-los conosco.
E as tristezas? Estaria no céu se afirmasse, também, que as deixei pela estrada. Não, estas nos aparecem aqui e acolá. Faz parte da nossa caminhada. Contudo, não podemos permitir que o verbo ser tenha a predominância sobre o estar.
E a saudade? Esta trazemos à tiracolo e não sabemos, exatamente, a sua dimensão e nem conceituá-la. Cada um tem a sua própria. O certo é que ela ocupa um lugar de destaque e definitivo no coração de cada um de nós, onde armazena a eterna lembrança de um familiar, de um amigo, de um amor.
Reportando-me, ainda, ao desgaste natural que os anos promovem no nosso corpo, lembrei-me da bonita poesia de Cecília Meireles.
Ela escreveu:
“Retrato”
“Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro;
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo;
Eu não tinha estas mãos sem força
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança
Tão simples, tão certa, tão fácil.
Em que espelho ficou perdida a minha face.”
Abílio, 8 de Junho de 2011.
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