A vida, essa dádiva que Deus nos concedeu, é tecida das mais incertas surpresas. E tinha que ser, pois, ao contrário, seria demasiadamente monótona.
Trazemos conosco um fardo natural de trabalho, sofrimentos e decepções, que, naturalmente é compensado pelas alegrias, realizações e gratidões. Cabe a cada um, com o livre arbítrio que nos foi dado, aceitar os desígnios que a existência nos impõe.
As dores que nos afligem são, quase sempre, incertas e pessoais. Em uns, mais intensas, em outros, menos. Entretanto, para muitas delas a Medicina, em sua admirável evolução, prescreve medicamentos que sustam definitiva ou temporariamente esses sofrimentos.
Todavia, existe aquela dor na qual a medicina, na sua mais expressiva grandeza, jamais será capaz de repará-la. Refiro-me a dor que se manifesta no âmago da nossa alma. Ah! essa dor é tamanha e dolorida. Aparece-nos repentinamente e, às vezes, nos marca para toda a vida. É a dor da perda de um filho, dos pais, de um grande amor, de um amigo.
Hoje, na missa, encontrava-se na fila, à minha frente, uma senhora. Por ocasião dos cumprimentos de paz, percebi no rosto daquela mulher sexagenária uma expressão latente de sofrimento. Essa impressão confirmou-se quando, durante a comunhão, enquanto Robson Alexandre cantava “MÉDICO DOS MÉDICOS”, a senhora, a qual me refiro, chorava copiosamente. Percebia-se, visivelmente, tratar-se de uma dor irreparável. E nós, seus vizinhos, sofríamos silenciosamente desse sofrimento irremediável.
Minha senhora: por tratar-se de uma dor irrecuperável, inexistem medicamentos para indicá-la, nem tampouco palavras para confortá-la. Mas, parece-me que o único remédio a indicar está bem próximo, no altar, olhando para ti.
Abilio, 23 nov 2009.
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