Calçadas

Aonde vai chegar o “progresso”?
Outrora, e não faz muito tempo, as calçadas das nossas cidades eram lugares sadios, próprios e exclusivos para nós, pedestres. Eram, ainda, ponto de encontro de pessoas que ficavam descontraidamente a perpetrar comentários sobre este ou aquele assunto, sobre o presente ou sobre o passado.
Nas cidades interioranas formavam-se, nas calçadas, as mais variadas e divertidas “rodas”. Nesta, alguns senhores comentavam sobre a vida política do município; mais à frente, uma roda de senhoras falava das traquinagens dos seus filhos; naquela outra, jovens moças compartilhavam, entre si, das travessuras dos seus corações.
Enquanto isso, a criançada brincava incessantemente, colorindo o cenário das praças, das ruas e das calçadas.
Isso, infelizmente, é coisa do passado. As cidades cresceram, a sociedade “evoluiu” e o “progresso” chegou. E com ele veio, à tiracolo, a insegurança, a imprudência, a desconfiança e o desrespeito.
Hoje, em algumas calçadas de Fortaleza, por exemplo, os pedestres estão literalmente impedidos de usá-las. Quando não são utilizadas como estacionamento, camelôs e centenas de restaurantes as usam como extensão dos seus próprios estabelecimentos. Pouca vergonha dos seus proprietários, mas, principalmente, do governo municipal que permite tal abuso.
Onde está o Código de Postura do Município que não coíbe tal absurdo? Onde está o direito de acessibilidade do deficiente físico e do idoso?
Pouco importa para eles!
A verdade é que hoje temos que conviver com o risco e caminhar paralelamente pelo asfalto, disputando com motoristas imprudentes e mal-educados o nosso direito de ir e vir.
Deixemos para lá, Fortaleza.
E hoje, nas cidades do interior, como se encontram as suas calçadas?
Ah! Lá o “progresso” também chegou e as “modernizou”. Estão todas desertas. Já não há mais a alegria daquelas rodas. As pessoas se enclausuram dentro das suas casas gradeadas. Estão presas. A insegurança, a televisão e a internet contribuem, sobremaneira, para que homens, mulheres e crianças vivam individualmente a solidão das suas próprias vidas.
Ah, “progresso” !

Abílio, 18 mar 2011

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