Na década de noventa, Adolfo tinha o hábito de passar as férias escolares das crianças, no aconchegante sítio, no Icaraí. Em razão do compromisso laboral, saía muito cedo da chácara, retornando no início da noite.
Fazia parte daquele convívio os familiares mais próximos: cunhados, irmãos e sobrinhos. Um dos mais assíduos, em razão do cuidado que merecia, era o seu querido e saudoso cunhado, Antônio Erasmo, cognominado Capitão. Aliás, este apelido merece outra curiosa e hilariante crônica.
Pois bem, Capitão, aposentado do extinto BEC, era muito querido pelos amigos e familiares, em razão da sua irreverência e total descompromisso com os hábitos sociais, influência das amizades adquiridas nas esquinas e botecos vulgares. Levava parte da vida alimentando o vício da bebida que não o abandonava, apesar das inúmeras tentativas em deixá-lo.
Certa manhã, às pressas para chegar ao trabalho, Adolfo senta-se à mesa localizada na varanda da casa para saborear um suculento cuscuz. Fazia-lhe companhia o querido cunhado que se abancou à frente.
Frequentemente olhando para o relógio, começa a se servir quando, por instante, percebe por cima dos óculos um gesto estranho do cunhado. Capitão estava com as duas mãos sobre a mesa, a boca semiaberta repleta de cuscuz, olhos semifechados, elevando vagarosamente a cabeça, propiciando o aumento da caixa torácica, quando, de súbito e sem controle, espirra ou tosse, melhor dizendo, espirra e tosse ao mesmo tempo, numa pressão jamais vista, deixando o coitado do Adolfo literalmente pigmentado de cuscuz.
Com os olhos arregalados e assustado da sua própria atitude, olha piedosamente para o Adolfo e diz:
_ PQP Adolfo, foi mal.
Adolfo retirou os óculos, o fitou por segundos, mas dizer o quê? fazer o quê?
Levantou-se vagarosamente, as mãos arriadas, camisa completamente salpicada de cuscuz, olhou para o cunhado repetindo cadenciadamente as mesmas palavras: P…Q…P…
(Chegou atrasado ao trabalho.)
Abílio, 12 de agosto de 2018
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